#03 Lá se vai quase um ano
Sem nenhuma surpresa, lá se vai quase um ano desde a última edição (a segunda kkkk) que publiquei dessa newsletter.
Embora eu quisesse que esse projeto de escrita tornasse parte da minha rotina, resolvi dar um tempo do que precisasse de esforço e foquei mais em me divertir deliberadamente. Isso porque, como eu já disse antes, eu tendo a escrever mais de acordo com a melancolia e sentimentos negativos que passam por mim, algo que eu queria dar um basta com esse projeto, e percebi que estava a caminho de só escrever na fossa depois de um acidente com a minha vó que teve minha participação direta culminando na quebra do quadril dela e semanas depois em sua morte. Devo ter escrito sobre isso em alguma página privada jogada fora, nem sequer chorei em seu velório e às vezes me pergunto se um dia terei alguma dor atrasada para expurgar.
2021 foi um pesadelo, mas eu tive forças para garantir que, quando ele acabasse, estivesse saudável pelo que viesse pela frente. Sendo assim, voltei para Arraial do Cabo cuidar da minha pousada um último verão que já estava chegando - mas sem a menor pretensão de trabalhar muito. Eu só queria curtir os últimos meses de contrato aproveitando o verão, a praia, Arraial e amigos.
Cuidei de mim, digo, enchia a cara toda noite, mas fazia exercícios e pedalava pela praia todo dia. Aquela velha história, um pouco de droga e um pouco de salada. A pousada ficou na mão principalmente do staff, foram tantos, novatos e retornantes. Tão bom ter com quem contar quando é preciso levantar pra fazer o café da manhã pra 30 pessoas e a ressaca resolve bater forte. Foi um bom verão, sem dúvidas.
O outono foi tão bom quanto. Arraial do Cabo se transforma quando não tem turistas, deu pra curtir algumas semanas de calmaria, mas às vezes batia saudades do agito. Tudo tão tranquilo.
Entregamos a pousada no último dia de abril. Agora, Boris Inn é uma das fases maravilhosas cheia de experiências que vivi, tanto no pessoal quanto no profissional. Quantas pessoas você conhece que queriam largar seus trabalhos para morar na praia? Adoro ter protagonizado essa história, ter deixado minha carreira de lado para empreender num lugar paradisíaco. É MUITO menos divertido do que parece, mas eu adoro contar histórias, amo viver as histórias e tenho muitas novas histórias para contar sobre isso.
Em maio, fiquei hospedado no hostel do meu amigo Yuri, O Vale - que só existe porque ele ficou inspirado com a pousada, diga-se de passagem - e mantive a vida calma, sem grandes responsabilidades, mas compartilhando aprendizados com meu amigo e ajudando o negócio dele nos dias que fiquei por lá.
A ideia era partir para São Paulo logo, eu tinha alguns compromissos marcados há meses - tipo ingressos comprados para o show da Fresno da tour VTQMV hehehhe - aí eis que aconteceu uma parada que mexeu com meu emocional e minha cabeça e atrapalhou todas as minhas decisões: um gato. O Pirata do Caribe Brasileiro.
O Pirata estava usando um dos quartos de hóspedes como refúgio. Um gatinho tão pequeno, magricela, feio e medroso, muito medroso. Qualquer aproximação resultava em fugas apressadas. Feio porque o olho esquerdo parecia inchado e saltado para fora com uma cor amarelada que doía só de olhar quando aberto. Pirata ficou hospedado no hostel sem pagar diárias por quase uma semana, até que chegou a hora de forçá-lo a uma mudança radical de vida e liberar o quarto para os próximos hóspedes. O vadio fugiu como diabo foge da cruz, deu a volta no quarteirão e se escondeu numa casa de temporada que invadimos dando tchauzinho para as câmeras até finalmente capturá-lo. Dali, levamos para Monte Alto e depois precisou ser internado em Cabo Frio, estava desnutrido, com febre e o olho arregaçado. Foi judiado, seja pelo homem, seja pela vida. O olho bom tremia e a dificuldade de se movimentar era nítida. Não consegui mais parar de pensar nesse gato.
Quando recebeu alta, lasquei comida e remédio no coitado que ficou oficialmente caolho. Ele pesava um quilo naqueles dias e hoje o filho da puta já tem mais de quatro. Yuri também precisava ir para São Paulo e começamos a pensar que o melhor seria levá-lo conosco para doarmos lá. Afinal, não cabia um gato em nossas vidas, como cuidar de outro ser quando não paramos quietos em nenhum lugar e estabilidade é algo inexistente nos nossos atuais vocabulários? Só pensei mesmo porque executar se mostrou algo impossível para a minha cabeça que começou a me aterrorizar. Eu não sabia direito como seria dali pra frente, mas minha intuição não deixou eu partir. Yuri foi e eu fiquei sozinho no hostel com o Pirata, ganhando a confiança dele dia após dia e acompanhando sua saúde melhorar. Desfiz meus planos e compromissos. Não tinha mais o que fazer, eu tava apavorado com a ideia de não cuidar dessa bola de pêlos.
Piratinha tá comigo desde então, já viajou por 5 cidades nesses 3 meses que estamos juntos. Semana passada estávamos em Sorocaba e minha prima disse que ele já viajou mais do que ela. Ele é lindo, gostoso, cheiroso, parece um tigrezinho todo rajado, mas é um pirata saqueando corações por nossas andanças. Não sei bem quanto tempo isso vai durar, nem quero pensar a respeito, só vou levando conforme a vida acontece e ele torra meu bolso. Sou apaixonado por esse felino que tem sido uma companhia maravilhosa e a galeria do meu celular pode provar:
Olha só que coisa mais fofa pelo amor de deus.
Poético
Nesse último ano não deixei de escrever, e até cheguei a publicar algumas poesias por aqui: texto deprimente, cômico aleatório e até romântico (e bem homossexual, por sinal).
Menos do que eu gostaria, mas fico satisfeito por ter diversificado os gêneros.
Bastidores
O Ghost, plataforma de CMS que utilizo desde o ano passado, atualizou para a versão 5 e trouxe algumas características bem vindas, portanto atualizei. Acontece que, como eu não pago 30 dolares mensais para ter acesso ao Ghost Pro, aproveito que o código é open source e eu mesmo hospedo e cuido da parte de desenvolvimento quando necessária. Então meio que eu perdi as mudanças feitas no tema anterior.
Por enquanto, estou usando o tema Edition, que é oficial, gratuito e compatível com as duas principais funcionalidades: busca e comentários nativos. Mas me incomoda demais não ter um dark mode nesse tema, tão bizarro ver meus textos no fundo branco. Essa claridade toda não combina com a bad vibe né?
A hora que eu estiver disposto, quem sabe, me debruço sobre algum tema para fazer as modificações que eu quero. O que pode demorar, afinal eu programo como hobby e não tenho toda a agilidade de um web dev profissional.
Se tu leu até aqui, se inscreva e faça um escritor amador marginal feliz :)