O furto
Em janeiro do ano passado eu fui assaltado pela primeira vez em São Paulo. Chegou pra mim aquele momento que dizem que todo paulistano passa. No impulso, eu reagi. Na ingenuidade, pensei que ao menos 1, das 60 pessoas que estavam em volta, me ajudaria. Teria dado um belo vídeo de ação de baixo orçamento, a coisa toda durou mais de meia hora, e eu estava possuído pelo espírito de Bruce Lee lutando contra 3 adolescentes armados, produtos da desigualdade social que existe neste mundo (existe um epílogo desse momento, em que eu prestei assistência psicológica para dois que eu consegui arremessar de dentro de um ônibus para a rua da consolação, quer dizer, eu não, o espírito de Bruce Lee). É uma “bela” história para se contar em uma mesa de bar, mas na época não compartilhei devido a “menino, você é louco?!”, sim, eu sou louco, mas tava com preguiça de responder.
Hoje, estava na estação Pinheiros, muita gente se apertando para entrar no trem, desisti na primeira tentativa e decidi me posicionar em outra porta. De repente, “Silva” parou de tocar no meu ouvido. Coloquei a mão no bolso. “Cadê meu celular?”. A porta do trem se fechou. Fiquei aflito. Eu nunca vou saber se quem pegou o objeto mais valioso (não somente o valor material, mas também o valor dos arquivos pessoais que jamais recuperarei) que eu carregava diariamente entrou no trem antes da porta se fechar, tática muito utilizada, ou se saiu andando entre as outras pessoas, impossibilitando que eu conseguisse identificá-lo. Só sei que eu tava ali, parado, sem música, dando o lugar da aflição para o nervosismo. O que fazer? A quem recorrer? Saí andando a esmo, sem avistar qualquer tipo de proteção para a situação. Cadê o segurança gato do metrô? Certamente precisamos de mais segurança do que modelos desfilando por aí. Não havia nenhum segurança por toda a estação, pelas escadas, pelos 50 andares daquele lugar. Mas, e se tivesse? Por acaso me ajudariam de alguma forma? Não. Lembrei do ano passado, não havia nenhum tipo de segurança também, só fui encontrar polícia na outra ponta da Paulista, e é claro que eles não me ajudaram, como também não me ajudaram com informações sobre o boletim de ocorrência, nem mesmo a delegacia em que eu fui, duas vezes, serviu para me ajudar com o B.O. Contudo, para conter manifestações democráticas, não são poupados reforços. Ai, Bruce Lee, se você tivesse baixado em mim hoje de manhã, quantas pessoas eu teria arremessado na linha esmeralda?
Incrível como desta vez eu não lutei com ninguém, não teve violência física, não teve perseguição e eu não precisei saltar na frente de um ônibus, mas eu tô sentindo o mesmo que senti ano passado, exatamente o mesmo, um fraco, desprotegido. Hoje é um daqueles dias que intensifica todo o gosto amargo que eu já estava na boca, se eu estava tão indignado estes tempos, agora estou mais nervoso e lutando comigo mesmo para não culpar a vítima, que tirou a mão do bolso para entrar no trem. Não sou partidário das ideias de justiça pessoal, mas compreendo que as merdas que andam acontecendo é consequência da falta de assistência do Estado.
Tô aqui chateado e desabafando, então quem leu até aqui e puder me ajudar enviando vibes positivas, eu agradeço. Tô precisando de conforto ): E quem souber o paradeiro do espírito do Bruce Lee, manda um recado, avisa pra ele baixar em Jesu Cristo, el robot del futuro, e adiantar logo o Juízo Final, que tá demorando ssaporra.