Escolhi a Madonna
Dentre os caminhos que tinha pela frente, escolhi o mais mundano
Se você acompanha minhas andanças, sabe que eu tive um 2023 transformador e me entreguei para a espiritualidade.
Talvez você não saiba, pois frequentemente me conecto com o arquétipo Eremita. Acabo com minha vida social e não dou mais a cara seja online ou nas ruas.
Foco no conhecimento, num caminho extremamente solitário. Não porque eu queira estar sozinho. Simplesmente acontece porque não teria como ser diferente em períodos específicos.
Nos últimos meses, estive próximo do Diabo. Quanto mais Ele me ensinava sobre o mundo, mais eu me conectava com Deus e comigo mesmo.
Conheci a feitiçaria e a necromancia, o culto aos mortos. É engraçado pensar que troquei mais ideia com gente morta do que com gente viva nesse período.
Mas nenhum conhecimento veio de forma divertida, muito menos confortável.
Hoje sei mais sobre o que me levou a espiritualidade, e ainda não sei nada.
Perceber que os métodos científicos nunca me fariam compreender o que precisava, muito menos me ajudariam, me fez abrir a cabeça para todas as pseudociências que um dia julguei.
Antes que pudesse avançar, houve uma nova reviravolta e fui afastado dos que me ensinavam.
Sei que é porque preciso voltar a atenção ao mundo material, garantir um bom teto, uma boa cama e uma barriga bem alimentada.
Tenho inúmeras possibilidades a minha frente e ainda sinto dificuldade em escolher o que quero. É como se fosse um catálogo de streaming em que passamos horas para escolher o filme.
Qual o próximo conhecimento sobre o mundo e a vida quero adquirir?
“Todos os caminhos levam a Roma”, João Caveira mandou me dizer.
Aparentemente, não querem que eu escolha nada relacionado a fora desse plano - justamente o que eu queria escolher.
Então escolhi o caminho mais mundano que tinha a frente. Peguei uma carona para o Rio, encontrei amigos e fui para o show da Madonna.
A força da vadia profana mais potente que existe. Puta que o pariu, eu tinha me esquecido o quanto é bom ser viado e viver a liberdade de se expressar como quiser em uma multidão de bichas - contrapondo o horror estampado em conservadores cristãos.
É vergonhoso perceber que décadas de carreira se passaram e essa mulher continua chocando com coisas que não deveriam chocar.
Acho que a Madonna me curou mais que qualquer consagração de ayahuasca poderia nesse momento. E olha que eu tinha uma consagração de ayahuasca marcada exatamente para o mesmo dia, agendada há meses hahaha
Pode ser que você esteja lendo e pensando "Mano, Jesus ficou meio louco né?”. Mas não seria um pensamento tão diferente de outras fases da vida…
Pra falar a verdade, enlouquecer é meu maior medo, e parece que eu vivo constantemente numa linha tênue entre saber e endoidecer.
Talvez, não mais. Vou dar um tempinho de volta ao “““mundo real”””. Voltar a ver e falar com gente (viva). Postar umas fotos bonitas. Até vocês acharem que eu voltei ao normal.
Aí depois eu sumo de novo e vou cultuar algum deus de outro continente que acabei de descobrir através de um cracudo aleatório que passou na minha frente.
(Publicado originalmente nos Stories do Instagram)