Choose a life
Eu não lembro como foi o meu aniversário 10 anos atrás. Naquela época, não tinha celular, muito menos uma câmera, para sincronizar as fotos do rolê na nuvem e facilmente refrescar a memória.
Ainda assim, coloco a mão no fogo que eu estava fazendo algo nada saudável, longe disso, provavelmente doidão e depressivo em algum canto de Botucatu. Escolhendo não escolher a vida. Escolhendo outra coisa.
Julho nunca foi tão diferente. Tão acostumado com o tradicional frio, neste aniversário eu pude apreciar o por do sol no litoral e boiar o corpo no mar. Tão acostumado a me sentir mal e nos últimos 5 anos tão acostumado a ter meus amigos por perto, dessa vez eu senti muita saudade.
Mas, afinal, quem não está sentindo?
Essa saudade definitivamente não estava no planejamento de ninguém. E esse é só mais um dos sentimentos incomuns que atravesso nesse novo 7.
Eu tô bem e feliz sim, mas também tô carregado, ansioso e querendo me jogar de cabeça na nova vida. Uma nova vida que inesperadamente não foi eu que escolhi. Escolheram para mim.
Enquanto 10 anos atrás eu era ódio, fazendo questão de esquecer meu próprio aniversário em mais uma noite de motel insólita a ponto de ficar doente (acabei de descobrir relendo meus tweets), no ano seguinte eu era um rapaz tentando descansar de muita luta por mudanças, e estava pleno, só aguardando poucos dias para começar a nova vida que eu havia escolhido, o meu futuro escolhido – no caso, entrar para a faculdade.
Eu escolhi a vida e ela mudou radicalmente, mas também fiz e faço o que posso para não cair na mediocridade e um dia apodrecer numa casa miserável.
Foi durante esse processo todo que eu quis adulterar o discurso choose life para que um novo significado me lembrasse de que a qualquer momento eu poderia mudar radicalmente de vida, começar uma inteiramente nova, assim como eu já havia feito uma vez. Escolha uma vida, são tantas e infinitas possibilidades. Escolha agora e viva novas e diferentes histórias ainda nessa existência.
Um homem incapaz de ser feliz e otimista se depender naturalmente dos próprios hormônios como eu, não acredita e deseja do fundo coração que não exista nada além da morte. Logo, tudo o que resta está contido neste curto espaço tempo.
Tatuar essa ideia no corpo esteve nos meus planos por muito tempo, sempre adiado, talvez para evitar confrontar minhas frustrações e não pensar que, a cada dia que passa e envelhecemos, os impulsos súbitos de esperança diminuem e aquela coragem que me moveu outrora poderia ter se dissipado para sempre.
Sorte a minha, a nossa, que não é bem assim que as coisas funcionam. E exatamente um ano depois de eu ter finalmente marcado meu corpo com alguns significados, me pego percebendo que, dessa vez, eu não escolhi nada.
Será que, se dependesse de mim, eu seguiria banalizando minhas próprias ideias? Talvez. Não importa.
O instigante é que o acaso tratou de surgir com uma sequência de oportunidades e outros acontecimentos, todas em detrimento do passado. Quase que escancarando para mim que não se escolhe uma novo vida na mesma existência mantendo um pacto severo com a anterior. Eu só as abracei.
Seja escolhendo ou sendo escolhido, continuo querendo experimentar todas as possibilidades.