Adeus, medo das interações sociais digitais
Voltei para as redes sociais e superei o medo das interações sociais digitais de vez
2023 é o ano em que superarei de vez a repulsa por interações sociais que desenvolvi 2 anos atrás.
No mundo real, no mundo offline, eu tô ótimo. Não tenho mais medo de andar na rua e encontrar algum conhecido. Não tenho mais medo de ser o Eliel, ou o Liko ou O JESUS maneiro que a galera adora se divertir e fazer piadas. Basicamente, não tenho mais medo de estar trocando ideia com alguém e começar a hiperventilar, meu coração a palpitar e sentir uma necessidade absurda de correr para longe e me isolar com minhas ruminações mentais.
Já no mundo digital, só falo nos canais que poucos vão me ouvir. Se tornou confortável não ter que me sujeitar às regras das redes sociais, de não precisar lidar com os sentimentos negativos que algoritmos e o comportamento da sociedade em relação à própria imagem causam, mesmo que você esteja totalmente consciente e alerta sobre eles.
Entretanto, os jornalistas e as publicações do século XXI adoram falar dos pontos negativos de se estar nas redes sociais, mas quase ninguém fala dos pontos negativos de não se estar nas redes sociais. Alguns anos na miúda, sem saberem de mim e eu não saber dos outros, trouxe o que encaro como consequências que me enfraqueceram como pessoa. Eu não sou melhor que antes, e definitivamente não sou mais forte.
Às vezes acredito que realmente sou um imbecil burocrata que consegue dificultar inutilmente até mesmo postar uma selfie no Instagram para dizer para os amigos e conhecidos que não vejo há anos um OIÊ SAUDADES. Contudo, e infelizmente, eu não tenho a menor chance de sobreviver pelo mundo de forma autônoma e solitária se não voltar a dar as caras. Já entendi isso. E por que mesmo entendendo isso continua assim tão difícil só imaginar voltar a publicar fotos e vídeos do meu dia a dia online e estar aberto para uma avalanche de interações?
A ironia de ser o cara que defende uma vida de se estar vulnerável para viver experiências únicas, mas não o faz online por se sentir vulnerável até demais.
Será que o medo que eu tanto falava para galera ser irracional de levantar o dedo para pegar carona com um caminhoneiro é em certa medida o mesmo que sinto de levantar o do botão de like? Certamente um não envolve violência física, então pode me chamar de babaca pela comparação, além de medroso. Ao menos, por enquanto, esse medo tem data de validade e o prazo já tá acabando. 2023 é o ano em que superarei de vez a repulsa por interações sociais digitais.
Na real. Superei. Foi fácil. Bateu inspiração para escrever um breve relato fantástico sobre estar ausente. E enquanto tomava banho a pulga mordeu falando, volta pro Instagram. Então voltei, rs. Tipo aquelas fitas da ansiedade que te faz procrastinar uma tarefa por dias a fio e então, quando finalmente dá a atenção necessária, termina a tarefa em poucos minutos e vem aquele pensamento: “era só isso?!”.
Gosto que esse texto parece estar num limbo da realidade e fantasia. Mas tem muito mais verdade do que parece ter:
“Andei sumido das redes sociais. Vivendo na mata, amigo das onça, sem energia elétrica, mas iluminado pelos vagalumes e estrelas - enxergava nada. Aí voltei pra praia, vender minha arte meia boca das coisas que a natureza dá e a galera compra por dó. Peguei umas ondas, rolou tempestade em alto mar e derrubou tudo, casa, torre, barco. A proa bateu na minha cabeça feio, fiquei mais desmiolado. Então fiz amizade com um Pirata, demos uns rolês por aí no asfalto. Ele não tá mais comigo, correu pra mata fazer novos amigos. Tava numas de brincar com passarinhos, coitados. Continuei na estrada, sem um tostão no bolso, escrevendo lamúrias digitais e personificando o lado podre de Bukowski, mas sem as mulheres e os cigarros baratos porque eu parei de fumar há dois anos após uma cirurgia espiritual feita por extraterrestres. Tô vivão, maricona, frequento a pracinha, flexível como se tivesse 16. Tenho mais uma cicatriz, se pá roubaram meu rim. Umas ideia torta, pego e transformo em textos despojados, leitores fogem. Um dia vou conhecer os fantasmas que sobraram dos meus sonhos da infância, alguma entidade disse pra contar isso aqui, que não é pra fugir da distopia narcizika tecnoilógica que se tornou o século XXI. Então, tá bom. Você tá firme?”
É curioso perceber as poucas mudanças significativas que o Instagram teve da última vez que o usei. Esperava algo pior do feed, aí me toquei que ele já era bem ruim antes. As configurações possíveis, a integração com o Facebook, a usabilidade das mensagens — tudo continua uma merda. Ver a vida “feliz” e os frames tão bem cuidados esteticamente de quem sigo só para relembrar o sentimento de “eu poderia estar fazendo isso” ou de “eu queria estar fazendo isso” — tudo continua uma merda.
Mas vamos encarar essa merda toda para colher os frutos que também existem e, afinal, são eles que me fizeram voltar.
Também voltei para o LinkedIn. Aqui o processo tá mais lento e torturante. Fugi dessa plataforma responsável pelo maior número de publicações tóxicas e pessoas delirantes em todas as esferas sociais e profissionais possíveis por metro quadrado assim que chegou o momento de conseguir viver a vida profissional sem precisar dela. Esse momento acabou e gradualmente espero ficar mais tolerante ao chorume alheio. Seguimos.
Falando em seguir. Fique a vontade para me seguir lá na famigerada rede. Prometo não surtar e correr desativar minha conta assim que surgir a notificação.