19 de julho de 2014
Julho nunca foi um mês fácil de engolir, embora as férias e tudo o mais, eu nunca lidei muito bem com a data de aniversário.
Não foi a toa que com 15 anos troquei o dia por outro aleatório no finado orkut, descobrindo um pequeno prazer em deixar as pessoas confusas e ler falsas palavras de amor e amizade 2 semanas antes da data real. Sorria ao ler dos mais próximos o parabéns no dia certo, dado pertinente que eram amizades virtuais. Fiz o mesmo nos 4 anos seguintes. Que estupidez a minha.
Nada contra o número 19, mas é que sempre no mês 7 ele evoca em mim sentimentos estranhos com os quais penso não saber lidar. Tanto é que em meus anos de transição o que mais fiz foi encher a cara desejando a perda total da consciência. Que estupidez a minha.
Quando criança desejei a Terra do Nunca com muita força, mesmo sabendo que o Peter Pan não existia. Assim como desejei receber uma carta de Hogwarts, tudo para me afastar o máximo possível da condição humana. Deve ser por isso que abdução é a última esperança. Que estupidez a minha.
Engraçado, lembro de planejar o futuro na escola primária: “com 22 anos vou casar, com 24, 25 e 26 serei 3 vezes pai”. Tô com 23 e nem namoro está no currículo, atrasei os planos. Não lembro qual era a situação planejada para este momento, mas quando chegou o dia 19 do mês 7 do ano 2014, estava no trem cheirando a álcool e com um livro sobre o colo. “Só garotos” estava na minha lista do Skoob há anos. No momento, Patti Smith e Robert Mapplethorpe fingiam namoro e corriam em fuga do autor de ficção científica. Mentalmente, tracei um paralelo do que foi meus difíceis 19 anos vagando por São Paulo com os 20 anos de Patti vagando por New York. Não encontrei um Jimi Hendrix lunático, mas encontrei outras pessoas que também fizeram meu caminho interessante.
Estou longe de ser o que planejava quando novo, assim como menos estúpido, o que me encoraja mesmo com todas as dificuldades e lamúrias. Entretanto, ainda não atravesso esse 7 sem revirar o estômago e a cabeça. Talvez porque meus novos planos também parecem não condizer com o que de fato me espera, e estragar a própria vida é um direito inalienável do qual eu já superei.
Vou rir do tal inferno e astros que me disseram, mas posso até concordar que trancado dentro de mim mesmo, eu sou um canceriano sem lar. Desobediente por não seguir o padrão que o tal 7 impõe nas outras pessoas, teimoso por discordar e relutar.
Subversivo e eversivo com minha própria aura.
Talvez chegue o dia em que tudo não passará de uma grande besteira e que eu pense “que estupidez a minha”. Então, convidarei todos para uma cerveja, eu pago. Até lá, continuarei sorrindo ao ler que por mais um ano faço a diferença na vida de pelo menos uma pessoa. Foda-se os devaneios ensandecidos, pois quem me fez com ferro, fez com fogo, e pode apostar que eu sei disso.