11 de junho, 1 ano depois
Há exatamente 1 ano, estava eu em uma manifestação pacífica, muita gente reunida lutando por uma causa, mais pessoas do que haviam na semana anterior, lindo. Logo que chegamos à praça da Sé, cantando entusiasmados, um policial militar ergueu sua arma, apontou para mim e atirou. Bastou 1 segundo para tornar toda aquela alegria em medo. Pulei para o lado e a bala de borracha acabou ferindo minha amiga que estava atrás. “Não corram!”. Mas não tinha como não correr. Tiros, gritos e muita fumaça. Aquele dia eles venceram. “Amanhã vai ser maior!”. Mal sabia que dois dias depois seria pior, muito pior.
Tantos amigos se juntaram dias depois, que orgulho. Varreu toda a tristeza daqueles dias de junho e me encheu de força e esperança.
O restante do ano era só “Não vai ter Copa”, não participei de nada especificamente sobre isso, mas sempre deixei claro que eu não era a favor também, apenas torcendo pela bagunça, a baderna me representa.
1 ano se passou e os mesmos que se juntaram ao grito de guerra hoje mudaram o discurso para “Vai ter Copa, sim!”. Triste. O que os fez mudar de opinião? Não falo para torcer contra o país, longe disso, mas esquecer tanta coisa que se passou no último ano, vestir a camiseta verde e amarelo e tomar uma cerveja no bar assistindo aos jogos?
É, alguns podem ter fechado os olhos como tantas vezes disseram que aconteceria, mas eu não esqueci. Eu não esqueci de todas as vezes que fui maltratado pela polícia, pelas balas de borracha, por toda fumaça de pimenta, pela correria por essas ruas jogando lixo e fogo na cavalaria para me defender. Eu não esqueci que esses cachorrinhos estavam cumprindo as ordens de um governo repugnante, que proporciona um serviço de transporte terrível para tantas pessoas enquanto enche o próprio bolso. E eu não esqueci que tudo que eu passei é fichinha se comparado a tantas outras pessoas.
Eu tenho certeza que as famílias do Pinheirinho não esqueceram. Eu tenho certeza que as famílias despejadas de suas casas não esqueceram. Eu tenho certeza que todos que perderam amigos e parentes, todos que se machucaram por causa da “Copa das copas”, não se esqueceram. Eu tenho certeza que os metroviários demitidos por proporem catraca livre, não se esqueceram.
Não, eu não tô trocando as bolas, eu não tô misturando o governo do estado e a república. Eu só tô dizendo que a casa continua desarrumada e que isso é um perigo para muitos que residem nela.
Tem gente que não esqueceu e não vai esquecer.