Sobre a história de um garoto que traiu a namorada com a prima dela
Frequentemente eu me aborreço com a exposição absurda e involuntária que muitas situações e pessoas recebem através das redes sociais, geralmente por não se encaixarem em algum tipo de comportamento ou um pequeno deslize que deixou evidente algo que devia ser abafado por motivos de vergonha. É um dos inconvenientes e preço a se pagar pelo impacto do meio virtual, a Internet também pode ser traiçoeira.
Mesmo sabendo que eu preciso ignorar grande parte do que vejo, não deixo de me indignar.
Ultimamente, tem pipocado por aí as fotos do garoto que traiu a namorada magra com a prima gorda dela. A menina engravidou e segundo a Internet ele “se fodeu”. Perdeu a namorada e assumiu uma garota considerada feia, perdeu todo seu potencial e se tornou exemplo de otário exibido em praça pública da web, para que todo mundo possa apontar e dar risada.
Eu vejo tanta coisa errada nisso. É aquele velho papo de que gravidez é castigo, é aquela velha cultura do padrão de beleza, é aquele velho machismo escancarado. Li em algum lugar que tudo não passou de uma brincadeira, que as meninas não são primas, o garoto não será pai e até que a garota grávida tem problemas mentais, e em alguma ocasião aconteceu a brincadeira que tiraram fotos. Eu não sei se a história é verdadeira ou não, mas as fotos, as publicações e todo o vômito da sociedade estão aí, cada vez mais compartilhado.
Não teve uma única vez que essa história apareceu no meu feed e eu dei risada. Pelo contrário, eu penso que estes jovens estão marcados para sempre nessa vastidão de links e por um motivo que eles não quiseram. Eu não acho que o garoto esteja dando risada. Eu não acho que a garota esteja dando risada, nehuma delas. Na verdade, eu acho que ninguém está dando risada, além de imbecis escrotos que não aprendem empatia.
Eu só posso imaginar o tamanho impacto que isso está causando para a menina, me pergunto se a autoestima sobrevive a isso. E se a história não for verdadeira e a garota tiver problemas mentais mesmo? Eu não consigo calcular os danos.
Sabe, eu não sei o quanto me afetaria se aos 12 anos de idade eu acessasse a Internet e encontrasse milhares de comentários humilhando minha mãe, por causa de fotos dela grávida de mim. Tenho certeza que não seria uma boa experiência, muito menos necessária.
Espero que esse filho seja forte.
“Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.” Darcy Ribeiro