Poor Things
A trilha sonora de "Poor Things" me deixou em dúvida se sentia tensão, perigo iminente ou apenas estranheza diante do desconhecido e novo. Essa incerteza reflete a própria jornada da protagonista Bella, que, mesmo recheada por cenas de sexo (que de verdade achei necessárias para contar uma história como essa), não gira em torno do ato carnal, por mais que pareça o contrário. O sexo é apenas parte de sua trajetória de descoberta e crescimento, livre da moralidade que impede a vasta maioria das jornadas.
Assim que o desejo se esvai, Bella se encontra nos livros, na filosofia e na realidade do mundo, respondendo a sua própria pergunta sobre por que as pessoas não passam o tempo todo fodendo. O sexo já não é mais suficiente. São as questões filosóficas e o olhar empírico sobre cada uma das experiências o ponto alto dessa história, acredito que até mais que a liberdade da mulher e os direitos sobre o próprio corpo.
A direção de arte flerta com o surrealismo em um mundo paralelo, trazendo uma atmosfera esteticamente diferente da nossa, mas com valores parecidos.
Adorei como o desfecho evita um final trágico. Bella contorna o problema de maneira dura, crua e ciente do próprio apuro em que estava, totalmente entregue à sorte, preferindo estar morta a perder a liberdade. Admito que aceitaria um pouco mais de crueldade com o final do general, talvez por eu mesmo não ter crescido o suficiente.
"Poor Things" é uma experiência maravilhosa que explora uma jornada de autodescoberta e liberdade, com tanto sexo quanto filosofia e ciência. Ainda que tivesse mais cenas carnais ou discussões empíricas sobre a realidade, não estaria sendo exagerado para uma história tão "formidable".