Evernote indo de arrasta pra cima? Como migrar as notas
Está arriscado manter anotações no Evernote. Recordei nostalgicamente meu uso e aproveitei para migrar minhas notas.
Ontem publicaram no Hacker News que quase todos os funcionários remanescentes do Evernote foram demitidos:
Its acquirer (Bending Spoons) has taken over operations. They’ve also hiked subscriptions prices and told customers they intend to use new revenues to pay for new features. How they intend to do that without any staff is something I would like to know about.
If you’re still using Evernote, probably a good time to stop.
A comunidade de entusiastas PKM (personal knowledge management) e que faz uso de tools for thoughts parece ter entrado em polvorosa incentivando o backup dos dados enquanto é possível.
Acessei minha conta e a nostalgia de reviver as anotações com a primeira ferramenta que me instigou a organizar pensamentos só não foi prazerosa porque a ferramenta parece um gorila para o meu notebook. Pesado, travando, péssimo de usar. Aliás, já havia me esquecido o tanto de informação que o Evernote nos mostra o tempo todo - eu uso Roam Research como TFT, que apresenta quase nada na tela.
Me tirou um sorriso do rosto ver meus cadernos da faculdade. Na época, eu digitava mais no celular do que escrevia em papel. Passei toda a faculdade sem utilizar um mísero caderno. Usava cartões no lugar, isso quando não anotava no celular, principalmente quando o celular podia incomodar.
Inicialmente, lá em 2012, o Evernote entrou na minha vida para organizar as anotações da faculdade. Depois que os estudos não eram mais minha prioridade, se tornou minha casa do método GTD (getting things done) - que admito nunca ter funcionado comigo e só me fez perder tempo punhetando productivity porn. Na sequência, foi casa do método PARA - mais famoso nos últimos anos, pelo seu criador Thiago Forte ter lançado cursos e um livro sobre ”Segundo Cérebro”. Também incompatível com meus processos - porém, estão lá as seções e cadernos do meu Evernote ainda seguindo a lógica: 1 - Projetos, 2 - Áreas, 3 - Recursos e 4 - Arquivo.
O quanto eu teria utilizado diferente e melhor o Evernote se tivesse a mesma relação (e compreensão) que tenho hoje, 11 anos depois, com o gerenciamento de conhecimento pessoal.
Algumas notas estavam lá como evidências de um novo futuro e momento em minha vida nessa de organização de informação digital. Como a nota fazendo referência a um vídeo de como usar o Notion em 2019, ferramenta para a qual migrei rapidamente - e nem senti falta do Evernote depois. E a nota do Readwise, que eu só comecei a usar mesmo no ano passado com o lançamento do Reader. Substituto do app Matter como o app Save to Later para mim , mas que uso principalmente pela sincronização de highlights com o Roam Research.
Passei pelas anotações que fiz logo após um protesto que fizemos em São Paulo, em 2015, pelo assassinato de Laura Vermont. Travesti de 18 anos assassinada por dois policiais militares da Zona Leste. Estava no movimento a trans Viviany Beleboni, rechaçada veemente no ano anterior por sua performance na parada gay sendo crucificada como Jesus. Registrei em uma fotografia linda o momento que Viviany abraçou os pais de Laura, que imploravam para não nos esquecermos de sua filha. Me emocionei. Essa anotação se tornou um texto que publiquei no LinkedIn para levantar a bandeira e garantir que nenhum empresário babaca homofóbico viesse me fazer proposta.
E foi engraçado ver qual foi a primeira nota que criei. Meu primeiro registro nessa ferramenta que me fez começar a pensar em organizar digitalmente minhas ideias, pensamentos e informações de um jeito eficiente, é uma nota chamada teste com uma foto da minha mão segurando uma maçã comida. No fundo, a Rayka, pet da casa, deitada no sofá da área da churrasqueira da república em que eu morava. As pala tudo ali. Aprontamos muito nesse cantinho. Provavelmente registrei com meu Samsung Galaxy II Light, meu segundo celular. O qual foi roubado poucos meses depois - e levaram embora as informações que eu não tinha armazenado no Evernote. Como os endereços e contatos das entrevistas de emprego que eu tinha naquela semana. Continuei no mesmo emprego por mais alguns meses.
Evernote já foi incrível. No passado. Tenho certeza que não volto a utilizá-lo com custos tão altos e tão distante das funcionalidades que procuro em uma ferramenta de anotações. Triste fim para o Evernote.
Não que eu ache que amanhã a casa cai e já era a possibilidade de fazer backup. Mas bora de previnir, né?
Exportar as notas do Evernote
Para fazer backup das notas, é necessário usar a versão do aplicativo desktop. Primeiro, clicar com o botão direito no caderno, selecionar Export e salvar como arquivo ENEX. Para exportar vários de uma vez, tem que selecionar com Command ou Control.
Migrar as notas do Evernote para o Joplin
Joplin é uma ferramenta de anotações open-source reminescente do Evernote. É leve, roda localmente e suporta os arquivos ENEX.
Para trabalhar com as notas do Evernote, vá em File e escolha Import. Existem duas opções que podem funcionar com o Evernote: Markdown e HTML.
Usei HTML porque duvido que minhas notas e clippagens lá da primeira metade da década passada iriam formatar certinho com markdown.
Como o Joplin armazena localmente, dentro de documentos de textos, a importação já facilita trabalhar esses mesmos documentos com outro aplicativo depois.
Migrar as notas do Evernote para o Apple Notes
O Apple Notes também importa os arquivos ENEX do Evernote. Fiz pelo computador seguindo: File > Import to Notes… e escolhendo os arquivos ENEX.
É bem rápido e salva numa pasta de notas importadas. Mas melhor conferir se tá tudo certinho porque algumas informações não transferem, como listas de tarefas
Migrar as notas do Evernote para o Notion
O Notion é outro que oferece uma ferramenta de migração integrada ao app. Para usar, clique em Import no menu lateral e escolha a opção Evernote. É necessário logar na conta do Evernote e então escolher quais cadernos quer migrar. Não