2025.W04 Assédio, Real Pain e mais Heartstopper
Leia até o fim para um gif da janela durante a maior chuva de São Paulo
Essa semana vim para São Paulo e a vida retomou a intensidade típica de quem tem uma linda rede de apoio e muito mais amigos do que o tempo livre permite dar conta nessa cidade.
Em poucos dias fiz o acompanhamento rotineiro para pegar o PREP, e claro que fiquei com o cu na mão de estar com HIV, afinal, esse medo existe mesmo transando com camisinha ou mesmo nem transando. É só botar pra fazer sorologia que ele bate.
Também fui ao oftalmo saber mais sobre cirurgia nos olhos e saí de lá com vontade de usar lentes de contato, que eu nunca usei na vida. Pena que o astigmatismo torna tudo tão caro.
Busquei minha linda bicicleta e pedalei pela cidade debaixo do sol quente. Tomei cerveja boa na Trilha de Perdizes. Almocei parmegiana no Jhony's, bife com ovos no Bar do Ari, e o melhor hambúrguer de todos: o feito pelos meus amigos.
Bebi por três dias seguidos e senti o peso da idade no copo de cerveja.
Num desses rolês, fui assediado e defendido por duas amigas. Um acontecimento que me deu o que pensar.
Vi essa mulher sozinha na mesa ao lado que não aparentava estar muito bem. Perguntei seu nome e a convidei a se juntar ao nosso grupo. Ela agradeceu imensamente e aos poucos se mostrou uma pessoa inconveniente.
Inicialmente, se aproximou demais dos meus amigos e depois tentou me convencer a contar uma história (que eu nem precisava ser convencido a contar) beijando meu pescoço.
Fiquei sem reação e extremamente desconfortável com a situação. Nenhum dos meus amigos homens notou, mas as duas únicas mulheres reclamaram com ela sobre sua atitude, que tentou minimizar como se não fosse nada demais, esperando que eu fosse concordar. Para tristeza dela, eu disse que mesmo sendo um cara gay isso não dá o direito de outra mulher sair beijando meu pescoço - ou algo assim - isso é um assédio.
Ela já não era mais bem vinda no nosso grupo, passamos a ignorá-la e, na sequência, ela se retirou. Em nenhum momento meus amigos me recriminaram por ter conversado com ela em primeiro lugar.
Onde ela me beijou, fiquei com a sensação de que alguém estivesse segurando meu pescoço. Subi ao banheiro duas vezes para orar um pai nosso (kkkk repetindo o que uma vez meu antigo sacerdote me ensinou para cuidar de outro garoto) e tentar assimilar essa sensação com outra que tive pouco antes do acontecimento.
No dia seguinte, conheci o terreiro TEU Urubatão. Cabocla Jurema me atendeu e disse para eu ficar despreocupado que não havia energia negativa naquela mulher ou em mim, mas sim uma energia de quem não conhece limites. "Você conhece limites? Tem andado dentro dos limites?". Sim, acho que sim. Definitivamente, hoje em dia estou dentro dos limites. Diferente de antes, como fui lembrado ainda aquela noite.
Fui ao terreiro com uma garota da minha cidade natal. A conheço há quase 20 anos, quando ela era uma feliz católica fervorosa e eu um triste crente pentecostal. Hoje em dia ela está se desenvolvendo no Urubatão. Após a gira de caboclos, fomos ao Bixiga curtir um samba.
Lá, em algum momento, ela lembrou de uma fase em que eu era o cara inconveniente e todo rolê tentava beijá-la - e nem havíamos entrado no assunto da noite anterior. Já tive tempo o bastante pra pensar sobre essas atitudes, as quais somente me liguei quando outra garota me acusou de tê-la assediado na nossa adolescência, me deixando em choque que ela me via de tal maneira e eu não fazia ideia. Na época, aquilo explodiu minha cabeça e me fez perceber o quanto eu já tive comportamentos escrotos. Como se beijar garotas fosse me fazer menos gay ou mais amado pelos que estivessem a minha volta. É Jurema, posso estar dentro dos limites hoje, mas já estive bem longe dele.
Na espiritualidade, nada é por acaso. E espero que esse episódio tenha vindo só para reforçar uma lição que eu já tinha aprendido e me manter ligado - dentro dos limites. Se isso aconteceu por algum outro motivo, aí fodeu.
Dirigido por Jesse Eisenberg, em que ele atua com Kieran Culkin. Os dois interpretam personagens parecido com eles próprios, Benji e David. Um muito expansivo e outro o contrário. Benji é imprevisível, irresponsável e extrovertido. David é quieto, estável, pai de família.
Tinha dado uma nota 3 no Letterboxd após assistir. Mas agora, escrevendo, diminuí para 2,5. Percebi que não é um filme tão ok.
Isso porque ele não se dedica o suficiente a explorar as dores dos personagens e, com isso, se posiciona ao lado do David e menospreza a dor de Benji. Sendo Benji a única coisa interessante na história. Gostaria de saber mais sobre ele antes de julgar que a sua dor “não é de verdade”.
A autora, Alice Oseman, diz na contra-capa que escreve as histórias que gostaria de ter lido. Ela é 3 anos mais nova que eu. Deve ser muito dahora crescer com histórias fofas e não trágicas. Como teria sido minha visão de mundo se “O Terceiro Travesseiro” não fosse minha principal referência de história LGBTQ, o qual era preciso ler escondido?
Nick e Charlie vão a praia e escutam Still Together do Mac Demarco. Coloquei para ouvir o álbum “2”, e outras mais recentes dele que nem fazia ideia (só agora soube que ele tem um álbum com mais de 200 faixas produzidas a partir da quarentena). Lembrei da vida 11 anos atrás. Tinha muito Mac Demarco (inclusive fui ao primeiro show dele no Brasil, no Sesc Belenzinho) e eu saía com um garoto que conheci pelo Tinder - a única pessoa com quem saí do Tinder.
Esse garoto era alguns anos mais novo e me interessava perceber as diferenças e semelhanças em como ele se relacionava com música, arte, amigos e ser viado. A impressão de que havia sido mais fácil pra ele chegar a vida adulta me alegrava. O que ele consumia na adolescência? As histórias que ele conhecia eram trágicas ou com finais felizes? E hoje, como será para os garotos?
A “relação” que tive com esse garoto não foi pra frente, não deve ter durado três encontros. Provavelmente, ele só queria transar, enquanto eu preferia conhecê-lo e aprofundar nossa relação de outras formas. Aquele ano (2014) foi uma coisa, eu cogitava ser assexual! Hoje em dia, eu sou o cara que prefere só transar.
Não nego que seria legal conhecer alguém da minha idade, com gostos e comportamentos que me deixassem interessado em conhecer mais dessa pessoa e estar com ela, do que só transar. Mas acho improvável, e meus interesses são priorizados em relação a encontrar alguém.
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