“Se você quer pegar um peixe grande, precisa ir mais fundo”, obrigado David Lynch
Talvez eu tenha a obrigação moral de meditar hoje e pegar um peixe grande em sua homenagem - tomara que não seja a ideia de um roteiro de filme porque sem condições
Sabe aqueles momentos em que a gente só sonha sem pensar em como as circunstâncias da realidade jamais permitiriam realizar o sonho?
Numa dessas vezes, eu sonhava em entrar para uma faculdade - brincando que tudo era possível, gostava de sonhar com artes cênicas na Unicamp; ou cinema em Cuba, na universidade fundada pelo Gabriel Garcia Marquez; ou na Maharishi, uma universidade baseada em meditação e em que David Lynch tinha fundado a escola de cinema.
David Lynch dizia que ideias eram como peixes:
"Se você quer pegar um peixe pequeno, pode ficar em águas rasas. Mas se você quer pegar um peixe grande, precisa ir mais fundo. No fundo, os peixes são mais fortes e mais puros. São enormes e abstratos. E eles são muito bonitos."
A meditação era o seu processo de mergulhar profundo e encontrar as ideias para suas obras.
Como vocês podem notar, eu não estudei cinema e meditação com David Lynch, nem em Cuba, nem na Unicamp. O que eu consegui brigando por esse sonho foi Rádio e TV numa faculdade que ninguém sabia o nome (FAPCOM, e pela qual sou muito grato).
Lá não tinha meditação, mas a meditação invariavelmente veio a se tornar parte da minha vida. E somente hoje, com a morte de David Lynch, me dei conta que eu nunca meditei remotamente parecido com o que poderia imaginar que seria adolescente sonhando em fazer cinema.
Talvez eu tenha a obrigação moral de meditar hoje e pegar um peixe grande em sua homenagem - tomara que não seja a ideia de um roteiro de filme porque sem condições -, talvez eu tenha só que me perder num limbo da consciência e questionar minha própria identidade... Se bem que, na real, foi bem longe de qualquer prática meditativa que eu devo ter vivido o mais perto de qualquer uma de suas histórias e personagens perdidos no contínuo do espaço-tempo. Provavelmente, sonhava acordado dentro de outro sonho ou sofria a ressaca de uma noite bizarra encarando o abismo de minha própria alma.
Bom que ainda tenho tempo de sobra para viver mais algumas maluquices interdimensionais enquanto uma música dos anos 50 toca ao contrário e uma senhora de cabelos azuis serve café frio em xícaras que nunca se esvaziam.
Se eu meditar hoje, vou visualizar Lynch fazendo perguntas.