Agora, Leituras e Aprovado pelo Detran

Ter um blog como hobby é passar alguns dias obcecado brincando com o dito cujo e o triplo de dias deixando-o de lado - não porque perdeu a graça, mas porque fica difícil justificar gastar tantas horas num projeto pessoal quando tu não gasta o mesmo tanto para conseguir dinheiro para compras básicas.

Não é um desses dias obcecados, mas aproveitei para tirar o pó com três atualizações:

  • Publiquei a página /Agora , que antes fazia parte do meu jardim digital, o Matagal Dazideia (que eu não dou mais atenção, talvez pelo mesmo motivo dito acima)
  • Publiquei a página /Leituras , que não está completa e perfeita como eu gostaria. Nem tem link para as minhas anotações de cada livro. Mas ah, foda-se, publiquei do jeito que tá e, conforme a possibilidade, a página se transformará.
  • Publiquei o texto, Aprovado pelo Detran, vindo diretamente dos meus stories do Instagram, onde conto sobre ter realizado depois dos 30 a façanha do famigerado sonho da garotada aos 18 anos.

Abaixo você confere os textos.


Agora

🧘‍♂️ Estou praticando Yoga seguido de meditação pelas manhãs;

🎻 Converso diariamente com meu guia espiritual e procuro melhorar meu altar cigano;

🕯 Às segundas, acendo vela para dois Exus no cruzeiro das almas, às vezes levo cachaça para eles;

🃏 Meu estudo com o Tarot diminuiu, dei uma broxada que se intensificou quando a Cigana Esmeralda deu ideia de eu me aventurar com o Baralho Lenormand, por eu ter a espiritualidade cigana;

💃 Também seguindo conselhos da Cigana, estou diminuindo o ritmo dos meus estudos em todas as frentes esotéricas e ocultistas;

📱 Tenho usado o TikTok inspirado por outros macumbeiros. É impressionante o tanto que se pode conhecer ali. Mas também é preciso cuidado, sem controle de tempo é fácil consumir informação incessantemente sem fins práticos;

🏍 Estou iniciando aulas de direção de moto. Assim que conseguir minha CNH, já não terei motivos para permanecer na Região dos Lagos;

🚴‍♂️ Tenho pedalado frequentemente entre Arraial do Cabo e Cabo Frio, principalmente para ir e voltar da autoescola;

🌊 Nos dias mais quentes, aproveito tomar um banho de mar seguido de um banho de ervas;

💻 Estou fazendo um site para a empresa de transporte executivo do meu cunhado. É o primeiro projeto renumerado que topei em muito tempo. Só aceitei por ser familiar, e me fez muito bem perceber que não estou tão enferrujado como pensava - fiz o planejamento e branding, na sequência estruturarei o tráfego pago;

📚 Estou lendo os livros "Ori: A Cabeça como divindade", "Todas as Crônicas" e "As 100 melhores crônicas brasileiras";

📖 Antes de dormir, leio uma crônica de Clarice Lispector;

🙂 Estou alegre vivendo minhas últimas semanas em Arraial do Cabo.


Aprovado pelo Detran

ℹ️
Publicado originalmente nos stories do meu Instagram em 29 de junho

Uma semana antes de eu completar 18 anos, estava deitado olhando para o teto e pensando:

O que eu poderia fazer de diferente numa data vista como tão especial?

Eu não precisava ser maior de idade pra comprar nem bebidas, nem cigarros, nem drogas. Era só achar os lugares certos, falar com as pessoas que não se importavam e como elas gostariam. Botucatu era ótimo para isso.

Também não precisava ser maior de idade para entrar nos lugares proibidos para menores. Estragar a própria reputação é tão fácil e te traz tantos benefícios quando se é um porra loca.

Então, o RG maior de idade não me valia de nada.

O que a maioria sonha em fazer aos 18 anos?

Tirar a carteira de motorista.

Existe um falso poder enorme em ser motorista, dirigir um carro, pegar as gatinhas e levar pro rolê. Mas de que me adiantaria se eu não teria um carro?

E pra que levar os outros pro rolê? Eu ein. Eu gosto de eu ser levado pro rolê. Entrar no carro de gente que acabei de conhecer e ser expulso por estar dançando em cima da mesa de um bar em Bauru.

Mesmo que o transporte fosse uma merda e frequentemente tivesse uma trabalhêra pra conseguir carona para os lugares que eu queria ir (ainda mais quando nem tinha celular com internet). Eu preferia isso do que ficar impossibilitado de curtir a noite como eu curtia.

Quando eu saía de casa, eu não saía para me divertir e voltar antes que a carruagem virasse abóbora e ter uma noite tranquila de 8 horas de sono.

Eu saía para enlouquecer. Para sumir de mim e da minha realidade. Para chapar tanto que a cada piscada eu estivesse em lugares diferentes e nem soubesse como tinha ido parar lá.

Se não fosse para isso, não tinha nem propósito em ter dado o primeiro gole.

Se eu fosse o motorista, como isso seria possível?

Já tinha perdido amigos e tantos conhecidos em acidentes de trânsito. (Botucatu ainda é essa doideira de pegar estrada embriagado?)

Uma coisa sou eu levar uma vida autodestrutiva buscando formas de me matar indiretamente, outra coisa é colocar em perigo a vida dos outros que não compartilham das mesmas vontades que as minhas.

Além de que, porra, tudo é carro, carro, carrrroooo...

Odiava a carrocracia que vivemos e não queria compactuar com isso, vai ver era um vislumbre de querer ser contra o sistema. Aqueles.

18 anos. Preciso fazer algo que eu nunca fiz. O que eu nunca fiz?

Ok. Vou beijar rapazes, tá na hora.

Foi assim que finalmente decidi pegar meninos depois de anos enrolando sempre que chegava a hora de acontecer. Logo no primeiro, vazaram a informação e me arrancaram do armário sem que eu pudesse fazer nada ou tivesse preparado para tal.

Foi horrível, mas no fim, foi melhor. Imagina se eu estivesse no armário até hoje. Corror.

Minha entrada para a maioridade veio acompanhada da minha emancipação homossexual. Não tava dirigindo sobre quatro rodas, mas tava dirigindo sobre os altos e baixos de lidar com a homofobia interna e externa até o cruzamento em que pudesse pegar um caminho que deixasse essas dores para trás.

Depois, me mudei para São Paulo. E se eu não dirigia no interior, não era na cidade grande que eu ia começar.

Acho que todo mundo já viu aquela figura comparando quantas pessoas cabem num carro e quantas cabem num ônibus, né?

Carrocracia, eeeeeca.

Ter um carro em São Paulo não me fazia falta. Metrô e ônibus te levam mais rápido de uma ponta pra outra, e ainda dá pra ler um livro no lugar de se estressar com o trânsito.

Já no interior...

É muito mais fácil conseguir carona pra ir se drogar ou ir pra igreja do que para ir pro meio do mato e respirar fundo.

As dificuldades de não ter carro e não dirigir se potencializam quando você já não é tããão porra louca assim. Quando tu já cuidou um pouquinho de si, dos traumas e já tá aprendendo a ficar de boa com esse negócio de viver.

E ainda por cima tá vivendo um pouquinho mais parecido com os tradicionais, nem que seja uma vírgula. E se tem algo que o tradicional gosta, é da tal carrocracia.

Nesses momentos, eu me pegava pensando o quanto seria mais fácil se eu pudesse ir e voltar com o meu próprio carro. Como otimizaria minha vida e meu tempo.

Que incrível seria se eu não precisasse mais me preocupar em perder a hora pra chegar na Barra Funda, que eu não precisasse mais sair correndo de casa para atravessar a cidade, que eu não precisasse mais me preocupar COM A MERDA DA FÊNIX ou qualquer outra empresa de viação que é uma das máfias mais cretinas que existe. Que eu não precisasse depender de gente que não deveria tá acordando antes das 6h da manhã só pra me levar na rodoviária para pegar o ônibus para São Paulo que passa somente naquele horário.

Curiosamente, esses pensamentos não prevalecem quando estou viajando entre cidades que não conheço. Quando eu não preciso otimizar tempo nenhum. Pois sem trabalhar, tenho todo o tempo do mundo. Sou mais rico que qualquer diretor.

Talvez porque ainda hoje eu goste de ser levado pro rolê. Entrar no carro de gente que acabei de conhecer e ser expulso por estar dançando em cima da mesa de um bar em Bauru e me deparar com situações enriquecedoras que eu não poderia ter imaginado. Às vezes, uma simples paisagem paradisíaca, outras vezes, uma magnífica vó contando sobre os boys de 90 anos que dão em cima dela.

Não era a ideia ter escrito tudo isso aqui, mas acabei me empolgando.

Tudo porque finalmente acabei o penúltimo capítulo de uma história que começou em julho do ano passado. O motivo de eu ter voltado a Região dos Lagos e não ter saído daqui esse ano.

FUI APROVADO NA PROVA DO DETRAN IRRRAAAAA

Me inscrevi na autoescola em julho do ano passado e, somente agora, um ano depois, é que estou terminando. Essa história fica pra depois. Ainda tem o último capítulo, que acontece mês que vem.

Acho que vou ter escrever um texto me debruçando sobre esse sentimento de aprender a dirigir depois dos 30. Um sentimento que estou certo que todos que tiraram a carta aos 18 anos não fazem ideia como é - assim como eu não assimilo por que cargas d'água todo o alvoroço para dirigir aos 18.

Será que os tempos de Jesus caroneiro se foram de vez e vem aí o Jesus que dá carona?

kkkk primeiro eu vou precisar de um carro, ou um motorhome, ou roubar a madalena

tu pegaria carona comigo?


Então é isso.

Esse blog pessoal continua sendo apenas um blog pessoal. Não é hoje que isso mudou, quem sabe amanhã.

Beijo