Houve uma época em minha vida
que a única coisa que me interessava era me drogar e beber, destruir a minha própria vida, afinal, nada mais importava, nada fazia sentido, e o garoto que esboçava um sorriso falso de ressaca durante o dia era o mesmo que madrugava pelas ruas procurando sujeira. Eu nunca pensava nas consequências, eu dava a mínima para o que pudesse acontecer após cada noite. Na melhor das hipóteses, apenas a morte estaria no fim da caminhada, todos morrem, anyway.
Misturar tudo e todos, eu apenas dançava com meus olhos chapados em cima do colchão da casa de um aleatório. Talvez na mesma noite algo incrível acontecesse, e acontecia, minutos depois eu poderia estar do outro lado da cidade, após uma viagem de carro com um motorista bêbado, e chaparia, ainda mais, sob o céu estrelado, cercado pela escuridão e o cheiro do mato. Talvez eu voltasse andando para casa, ao amanhecer, com um careta queimando meus dedos e a testa concentrando todo o ódio pelo sol ter surgido. Isso se eu voltasse para a casa.
Era mais fácil encontrar uma nova onda pedindo para ser abusada, me esconder da polícia no cemitério e atrapalhar os sonhos dos que já estavam enterrados. Eu ainda estava me enterrando.
A dor era saborosa, tão mais prazerosa e fácil de lidar que a emocional que eu queria canalizar ao máximo fisicamente. Doa na pele, mas não doa na alma. Que alma?
Bela alma essa que se divertia com os corpos, dentro de banheiros sujos cercados por pessoas nojentas. Pessoas estas que poderiam achar divertido dividir o padê com os amigos e curtir outra festa como o inferno, era apenas diversão, para elas, mas para mim era apenas outro episódio de uma saga que eu mal esperava pelo fim. Só estava pegando um atalho.
Que trouxa, eu, pensar que controlar o que não pode ser resultaria em diminuir o que sentia por dentro, mas que só aumentava.
Tudo aquilo me aproximava do divino, eu atingia a glória e dava um novo sentido para a insignificância da vida de um verme.
Que surpresa, olhar para trás e perceber o quanto tudo isso foi necessário. Foi tudo isso, todas essas loucuras e inconsequências que ampliaram minha visão, me mostraram que existia muito mais além do que eu podia ver. Mudou minha perspectiva. Pra que morrer sem sentir o gosto do sangue da Terra? É para isto que eu estou aqui.
Agora eu encaro com a cabeça levantada todas as consequências dos meus atos, procuro sentir orgulho das cicatrizes que ficaram e não pensar muito no tanto que me danificaram para sempre.
Tirei proveito e percebi a moral do meu conto de fadas diabólico. Minhas ideias fortaleceram e eu tenho base para argumentar e defender minha subversão.
Olho para esse blog, navego pelos meses passados, revivo algumas dores e então sei que estou um passo à frente, vários passos à frente.
O Tempo muda a todos.
“Nós somos só um milhão de pequenos deuses causando tempestades e enferrujando cada coisa boa”