Comunidade Nerd: Preconceito e Ignorância

Eu costumava ser bem nerdão sabe, bem dentro daquele estereótipo do ~virjão~, CDF da sala, videogames, HQs e cultura geek em geral.

Só que a vida é louca e eu não consegui manter este lifestyle por motivos de cerveja e roque enrow.

Também não importava o quanto de conteúdo eu consumisse sobre o Game Cube ou o quanto eu desejasse jogar Resident Evil 4 e GTA, no guarda-roupa continuaria existindo apenas aquele super nintendo amarelado que mal tinha controle funcionando. Eu perdia tempo sendo antenado em tecnologias que não estavam ao meu alcance e mantinha a prepotência de me sentir superior aos colegas que eu julgava serem menos inteligentes. Até eu encontrar a rua, o rolê, a cena, sex, drugs and rock and roll e todas as ovelhas negras das famílias tradicionais brasileiras. O tempo que eu perdia sendo um aspirante babaca foi melhor aproveitado com as mil e uma gangues do interior.

E sabe de uma coisa? Hoje eu fico felizão de ter seguido este caminho. Se antes eu olhava para a comunidade nerd e me sentia parte dela, queria ser abraçado por ela e a enxergava como a única com um mínimo de vida inteligente na Terra, agora eu enxergo como uma das comunidades mais preconceituosas, homofóbicas, machistas e babacas.

Inclusive, eu enxergo a comunidade nerd como uma das mais burras. (Imagina a decepção para o meu eu de 15 anos atrás ler isso)

Isso porque os caras tem preguiça de pensar, tem preguiça de discutir, tem preguiça de argumentar.

Eu vejo isso no que eles publicam, como interagem online e dentro das minhas conexões sociais. Tenho vários colegas que se gabam por terem passado em seus cursos de exatas nas universidades públicas na primeira vez que prestaram o vestibular, mas não se esforçam 5 segundos para questionar o que compartilham antes de reproduzir alguma besteira do senso comum. Aliás, se você tiver lendo isso aqui e sentir que eu poderia estar apontando o dedo para você, faça um favor para a sociedade: questione a si mesmo e abuse de argumentos válidos.

Sério. Política não é somente lá em Brasília, é tudo que está a sua volta e o que você vive. Não compartilhe o bolsomito dizendo apenas “verdade” ou “exato!”, todo empolgado porque alguém verbalizou o que você não conseguiu. A vida real não é o filme do Batman vs Superman, então você não vai passar para a próxima fase só compartilhando a crítica do fã chato que não viu sua história favorita ser tão bem representada como é nós quadrinhos. Aliás, imagina que louco seria se os que consomem boa parte do tempo estudando, analisando e criticando algum produto de entretenimento passassem a estudar, analisar e criticar a própria indústria do entretenimento? Imagina que louco os cara se perguntando o porquê de as personagens femininas nos quadrinhos ficarem em posições humanamente impossíveis para exibirem ainda mais os seios ou a (pouca) roupa de heroína que não tem função alguma de defesa? Ou o porquê dos personagens fodões serem geralmente grandes, brutos e másculos? Ok, temos personagens que há décadas foram construídos em cima de características que vocês não querem perder, mas por que será que a construção dos personagens foram em cima dessas características? A quem deveria agradar?

E só para antecipar que o entretenimento não tem nada a perder quando se adapta, olhe para o que o Netflix fez com a Elektra na segunda temporada do Demolidor, uma personagem que tomaram o cuidado de não hipersexualizar e objetificar e ainda assim ficou foda. Nada de querer cagar regra em como o entretenimento deve funcionar, mas só to pedindo para questionar o que consome.

O importante é não ser o fã de X-men que xinga direitos humanos e acha um lixo qualquer discussão sobre minorias. Porque isso, meus queridos, é muita burrice.

(E meu Pai, por que que toda vez que eu problematizo acabo escrevendo textão?)


Textão publicado quando eu fui compartilhar esse post abaixo (que tem muitos comentários ignorantes) e não consegui reclamar em apenas 3 linhas: