Angústia

Eu sempre odiei a escola. Eu odiava o primário, eu odiava o ginásio, eu odiava o ensino médio. Aliás, este último eu fiz em uma escola técnica, a qual pensei que seria diferente, mas não foi. Nunca odiei tanto um lugar em toda a minha vida.

Quando eu entrei para a faculdade estava tão empolgado! Pessoal maduro, gostos parecidos e estudando o que quer, é isso, pensei. Eu dei um duro danado para conseguir entrar para a faculdade. Eu queria cinema, consegui bolsa em Rádio e TV, fiquei feliz, mesmo não escutando rádio e nem assistindo televisão.

Então, teve uma festa, me fotografaram beijando uma garota. Naquela época, meu cabelo passava pela fase chata de crescimento, não era difícil escutar piadas. Publicaram a foto com a legenda: “As #sapatas estão ganhando espaço na #FAPCOM em! Deveria ser #Fapgay o nome desse lugar”. De repente, me senti de volta à quinta série. Ainda bem que eu já havia aprendido “foda-se” nos anos anteriores.

Acabou a empolgação e comecei a perceber a faculdade diferente, notei as falhas no ensino, notei a falta de bom senso em alguns professores, notei o descaso com as específicas da habilitação e notei a futilidade de muitos alunos. Não era tarde para mudar, afinal eu poderia ser o equívoco dali. Mas, além da própria faculdade, passei a compreender melhor todo o meio universitário e até o próprio mercado de trabalho audiovisual, mais difícil e falacioso do que eu já sabia.

O desânimo e a frustração apareceram, abriram a porta e se sentaram em minha mente. Foram tempos de motivação escassa. Porra, e eu ainda nem estava na metade do caminho. Passei a focar no que eu faria por conta própria, a minha autonomia seria a minha salvação. Eu daria um jeito de levantar a bandeira dos meus ideais.

Me inscrevi para a Iniciação Científica, brilhando os olhos com meu projeto focado em economia criativa. O que não me faltava de tesão nesse assunto, sobrava na vontade de aprender mais e levar a palavra adiante. Pobre coitado, achando que venceria o turno do trabalho e estudos para me dedicar a uma pesquisa nas horas livres. As entregas se atrasaram, o tempo passou e eu suei frio. Tudo bem, eu recupero nas férias. Claro que eu recuperaria, mas a vida não é um filme adolescente barato e ela sempre gostou de virar minhas situações complicadas de ponta cabeça. Acabou república, acabou casa e estava eu perdido na vida mais uma vez. Procurar uma alternativa para conciliar trabalho, faculdade e moradia era prioridade. E assim terminou minha pesquisa sobre economia criativa, levando meus desejos abaixo.

O desânimo e frustração já faziam festa em minha cabeça. Todos os dias, trabalho o dia inteiro, faculdade a noite e o desespero entre um e outro. ARGH. Não conseguia aparecer em debates, não conseguia aparecer em diversas manifestações. Não conseguia me aperfeiçoar artisticamente, não conseguia escrever, não conseguia levar adiante nenhum projeto. São Paulo girando e eu parado.

Pra que perder tempo no trabalho e na faculdade? O tempo, ele vale muito, por que desperdiça-lo? Estou vivendo aqueles que poderiam ser os melhores anos de minha vida. O que você faz com o seu tempo?

Fiz tanto para entrar em uma faculdade e depois tudo que eu quis foi sair dela. Que babaca imbecil eu sou, reclamando de um privilégio que tanta gente gostaria de ter. E eu sei, mais do que ninguém, o valor do que eu tenho.

Adiei meus planos de viajar o mundo e conhecer outros Universos, que, aliás, trazem muito mais conhecimento que uma unidade de ensino superior. Essa minha ânsia de fazer tudo e ao mesmo tempo fica entalada aqui na garganta, contudo não serei ainda mais imbecil dando ouvidos ao impulso.

Depois de tanto caminho percorrido eu já entendi, há tempos, por que é que eu odiei tanto as escolas. Na verdade, eu amo estudar, o que eu odeio são os sistemas de ensino que me empurraram goela abaixo por toda a vida, ineficazes em diversos sentidos. Eu poderia estar me livrando de mais um deles nesse momento, no entanto eu reconheço que ainda (mas não para sempre) sou dependente do sistema, e que o melhor que eu tenho a fazer é simplesmente esperar, colherei bons frutos mais para frente. Até lá, faço contagem regressiva mentalmente, aguardando desassossegado pelos dias em que viverei intensamente contra a correnteza, pois eu não faria sentido algum se não fosse para andar na contramão.

Falta 1 ano… 1 ano…