#01 Sobre compartilhar o que escrevo e amores modernos

Há pouco mais de um ano, me peguei com pensamentos sobre o que seria da minha vida pós agências de publicidade. Eu tinha muitas ideias e nenhuma amarra. Uma das tantas era finalmente colocar em pratica algum projeto com escrita ou mesmo produzir conteúdo audiovisual durante a jornada de descobertas. Cheguei a gravar e editar alguns vídeos para o Youtube, rascunhar desenhos e versos para o Instagram e roteirizar para o Tiktok, mas por fim acabei abrindo um restaurante delivery e na sequência uma pousada na praia, os quais do topo das prioridades deixaram os projetos de conteúdo para trás.

Então, 2021 foi preenchido com muitas desgraças, altas tretas familiares e pessoais, além da segunda onda do covid, que afetaram drasticamente meus planos e minha saúde mental.

shit happens...

e depressão & ansiedade happens também ¯\(ツ)

Tem um lado curioso na minha depressão, ela me obriga a consumir fotos e gifs com os quais eu me identifico e ler citações de filmes dramáticos, quanto mais próximo de que a vida não vale a pena ser vivida melhor, se torna um alimento que eu passo prolongadas horas mastigando. E quanto mais eu mastigo, mais eu tenho vontade de expurgar meus próprios sentimentos fazendo minhas próprias artes. Eu fico muito criativo nesses momentos, mas quase nada que vem dali é aproveitável, pois podem me afundar ainda mais num ciclo vicioso ou podem assustar os conhecidos - que devem ficar assustados mesmo, afinal não dá pra saber o quão grave minha cabeça se encontra, o quanto que são apenas manifestações sentimentais criativas ou flertes suicidas. Por outro lado, a ansiedade me tira a possibilidade de me expressar levando embora toda minha concentração. Portanto é um lugar relativamente de fácil acesso, porém frágil, essa inspiração específica que me assola nas crises.

Dito isso, é natural compartilhar meus pensamentos de formas improváveis, indiretas e que não facilite as interações sociais. Quanto mais direto eu sou, pior fica a ressaca moral. Nas entrelinhas fica mais fácil de driblar a baixa autoestima que porventura ocorre.

Certa vez passei a assinar alguns versos com pseudônimo, não como Eliel, nem Liko e nem Jesus. Isso porque eu não queria associação alguma dessa vida paralela com a vida produtiva que levava. Ia dar muito trabalho explicar para conhecidos que tava tudo bem comigo, que eu sou assim melancólico o tempo todo e só estava botando pra fora meu lado artístico.

Cosmoliko nasceu mais ou menos dessa fonte há muitos anos atrás - aliás, nunca me decidi se leio com acento agudo no primeiro ou no segundo O, logo intercalo, sinta-se a vontade para fazer o mesmo. Por aqui já passou as mais toscas declarações e as mais inspiradas palavras e fotos. Já postei e já apaguei. Já coloquei senha. Já aprendi muito também brincando com as plataformas desse blog de um único espectador, eu mesmo. Sempre foi um espaço digital meu e de mais ninguém, um lugar a salvo de qualquer outra rede social.

Numa dessas crises, decidi por reformular absolutamente tudo e dar um novo propósito para essa zona desvairada. Afinal, eu gasto dinheiro para manter esse hobby, e já tava mais que na hora de buscar algum retorno. Claro que retorno financeiro seria incrível, mas no momento eu só quero o orgulho de ter um público que gosta do que eu tenho para dizer e compartilhar. Quem sabe num futuro não tão longe eu possa vir a publicar algo incentivado por quem me segue?

Eu quero pessoas me lendo, eu quero pessoas pedindo que eu escreva livros, eu quero ter minhas palavras admiradas.

Nessa brincadeira de reformular o blog, abri mão da seção de fotografia e de um punhado de declarações vergonhosas. Infelizmente terão que ser poupados de ver algo relacionado ao menino que eu era apaixonado aos 18 anos ou fotos da bunda do meu amigo. Ainda amo fotografia, mas vamos por partes.

O momento pede uma versão pensada em facilitar que eu escreva mais e compartilhe mais, até para eu sair um pouco do lugar comum de escrever na fossa, mesmo sabendo que é uma atitude inevitável. Certamente eu poderia escrever sobre comunicação, mas como eu não sei como será o dia de amanhã nesse ano desgraçado, preciso manter os assuntos separados, autores diferentes. Liko é o cara que lida com os transtornos mentais expressando suas dores, enquanto Jesus é o cara profissional que trabalha e garante o ganha pão. Vai que começando essa newsletter e falando um pouco mais de outros assuntos de interesse pessoal eu tire esse blog do fundo do poço. Seria essa uma meta? Definitivamente, não. Mesmo que eu não compartilhe nessa newsletter, vou manter minhas angústias convertidas em palavras em outras categorias do cosmoliko.

Talvez eu comece dividindo minhas reflexões sobre o que consumo, principalmente livros, sempre quis uma biblioteca de anotações por aqui e trocar mais figurinhas com outras pessoas que escrevem.

O que você gostaria de ler eu escrevendo?


Últimas do blog

Em julho eu trintei e, na noite anterior ao meu aniversário, atingi um ápice de felicidade que horas depois foi substituído por uma crise paranoica e de uma ansiedade avassaladora que me fez ficar acordado por cerca de 40 horas. Pós paranoia vivendo como um zumbi vegetal desesperado por dormir e não encontrando um meio, escrevi para digerir a oscilação nos picos de humor em tão pouco tempo.

Paranoia aos 30
Cheguei aos 30 e resolvi usar meu desequilíbrio químico para escrever histórias mais inspiradoras Não para os outros, mas para mim mesmo Sigo desde então escrevendo ficção Assim posso usar minhas memórias fragilizadas para fabricar novas histórias que não sejam nocivas a minha própria versão Longínq…

Ainda bebendo da fonte que me inspira próximo aos aniversários, refleti sobre o meu estado doente nos meses anteriores e o quanto eu me comparava com o cara de 10 anos atrás - aparentemente mais forte e determinado que o de hoje - que também passou por seus perrengues. Felizmente, estou conseguindo recomeçar mais uma vez.

Recomeçando
Todo ano, nas semanas anteriores a fazer aniversário, eu me inspiro a escrever e muitas vezes cometo o pecado de começar tardiamente, quando os primeiros sentimentos já foram atropelados por novas experiências que passam a ocupar a prioridade da minha necessidade de botar pra fora em palavras todo r…

Se tiver disposto a ler textos depressivos, estou reunindo alguns na tag Poemas tristes demais para serem lidos sóbrios. 😬

cova no meu peito agora
acho que estou nervoso agora aflito agoniado angustiado agora acho que estou atormentado agora atribulado apreensivo preocupado agora acho que estou ansioso agora me sentindo ansioso agora fantasmas rondando a minha alma eu sou o lixo de uma lápide agora e não há nada além de uma cova e não

Amores modernos e a falta deles

O que eu tenho visto


Provavelmente como o planejado, eu assisto a todos os episódios de Modern Love com um sorrisinho idiota e no fim fico com vontade de me apaixonar por alguém. Quase como abrir o TikTok e ver uma sequência de vídeos fofos de casais de namorados sendo felizes, até querer que eles morram de tão irritado com esses vídeos repetitivos e sem sentido, exceto que eu não quero que nenhum personagem morra e, enquanto o TikTok dá vontade de ter um namorado, Modern Love dá vontade de se apaixonar e viver o resto da vida compartilhando os dias com uma única pessoa. Parece que o amor é tão real com essas histórias, né?

Ontem estava conversando com a minha mãe sobre a crise dos 30, nem eu nem ela tivemos. Rimos que ela chegou aos 30 grávida e com 2 filhos e eu nem sequer namorei até agora. Parar para pensar nisso parece uma estrada fácil para sentir um vazio e cobrança interna, mas um pouquinho de esforço e todas realizações na minha vida me lembram que talvez eu não tivesse as conquistado se houvesse uma pessoa na minha vida. Aí eu fico de boa e penso que talvez eu tenha que lidar com a ideia de envelhecer sozinho, simplesmente porque isso é possível. Até assistir a Modern Love e sentir uma vontade absurda de me apaixonar.

Se caso um dia eu pegue um trem para Paris e faça uma escala em Viena, espero que o boy compreenda minha falta de habilidades sociais num relacionamento amoroso. Tenho a impressão de que me comportaria como um adolescente apaixonado e não tenho muita certeza se sobreviveria a um término. Ou será que eu seria mais frio do que imagino e falasse "vlw flw" no fim para preservar o orgulho? Talvez eu nunca saiba.

Enfim, amei a segunda temporada de Modern Love ❤️

Também reassisti Fleabag, essa maravilhosa! (Aliás, não leia abaixo se não quer spoilers - se bem que já tem mais de dois anos que a história acabou e estamos falando da melhor produção para TV dos últimos anos)

Seria essa uma personagem fácil de se identificar? Compulsão sexual como fuga me parece bem comum - ainda mais no meio gay.

Tem um tipo de dor bem específica que permeia toda a primeira temporada e culmina em rejeição por todos os lados. Mesmo que por um lado, a protagonista, tenha sido uma escrota em dado momento, a história é tão bem construída, envolvente e profunda nas piadas (para não falar do absurdo que é o uso da quebra da quarta parede), que é muito improvável não sentir empatia pela dor que ela está sentindo.

Sexo é uma medida paliativa para a culpa e luto que ela sente. E quantas vezes já não usamos do sexo para sanar outras dores? Bem, ao menos eu já usei, às vezes nem consciente, somente ansiedade traduzida em impulsos sexuais beneficiados pela sociedade moderna com aplicativos de paquera em uma despudorada cultura gay sem tabus. Para me aprofundar ainda mais no sexo, devo ter abusado dele evitando a importuna intimidade.

Já curada ou em vias disso (ou simplesmente mais avançada no seu processo de recuperação), a segunda temporada começa anunciando que Fleabag é uma história de amor. Aquela dor que paira sobre a primeira temporada já é menor e por isso o sexo não é mais tão presente, mas a personagem se apaixona por um amor impossível e, droga, eu tenho propriedade para falar disso: que dor horrível.

Não que eu tenha caído de amores por um padre, não que eu também não tenha beijado um, na verdade, ex-pastor, não conta - e o padre na minha história era bissexual e eu não quis um triângulo na noite que tive a oportunidade.

Fleabag, com as esferas da vida relativamente equilibradas e caídinha pelo boy, quer justamente a indimidade e compartilhar a vida com alguém. Acaba no ponto de ônibus trocada por deus e a ordem de não voltar a igreja. Essa cena é um ótimo exemplo do quanto a minha falta de traquejo poderia arruinar minha autopreservação, muito improvável que eu simplesmente dissesse que o ônibus não viria magicamente, mais plausível acreditar que eu soluçaria desesperadamente mesmo com o peso de 30 anos nas costas - ou não, vai ver eu só estou dramatizando momentos que nunca existiram e nunca existirão.

O certo é que, caso eu venha a me apaixonar e até viver um amor moderno, algo que eu juro que se saboto é inconscientemente - o que eu não duvido que seja o caso, e se eu não duvido será que é inconsciente? af, enfim - e porventura meu relacionamento acabar ou mesmo eu levar um fora antes que a história comece, todo mundo vai poder ler a respeito porque com certeza eu vou querer escrever sobre o meu fracasso amoroso.


Playlist para piranhas de coração triste

O que eu tenho ouvido


Industry Baby deve ter sido minha última obsessão (aliás, você viu o videoclipe sem censura?), mas como eu tava total bad vibes na segunda semana de agosto, Broken do Lund voltou pro repeat junto a outros artistas rappers emo.

Montei uma playlistzinha com as principais músicas dos principais artistas escutado nos últimos dias.

Enfim...


Eu poderia terminar essa newsletter pedindo para você compartilhar ela com algum amigo, mas como essa é a primeira vez que eu escrevo uma, nem sei exatamente como será o formato disso, periodicidade e o que vai acont... Ah, que que eu tô falando? Se inscreva e compartilha sim! É essa a ideia de começar uma newsletter mesmo.

E enquanto eu não configuro uma caixa de comentários, fiquem felizes por mim que agora estou vacinado com as duas doses e depois de 3 meses posso dizer que já não estou mais doente como estava lá atrás :)

E que permeneçamos assim 🙏

Até breve! (espero)