Várias marcas e um desabafo

Várias marcas e um desabafo

Conheci muita gente durante a vida, como todos, e sei que ainda passarão por mim muitas outras pessoas, muitas outras histórias e universos. De cada uma delas conseguimos algo novo, mesmo que esteja escondido, mesmo que você não saiba ou não perceba. Cada um tem algo a acrescentar. Cada um tem algo que pode mudar sua trajetória, revirar tudo aquilo que você conhece, te levar para uma nova direção, te jogar no olho do furacão, te fazer enxergar coisas novas e abrir teu coração. Ou fechá-lo um pouco mais, e mais, e mais, até escondê-lo da vista de todos, abrindo mão de novos caminhos, por vontade própria e provavelmente equivocada. Mas até das pessoas e os momentos que levam você a se fechar e querer correr para longe, existe um aprendizado. Você pode não se lembrar de todos, mas está marcado em seu corpo, em sua alma, em sua cabeça, e reflete em cada decisão tomada, nem certa, nem errada, apenas uma decisão que traz consigo uma bagagem de tudo o que você já viveu, sejam dez, vinte ou cinquenta anos. Sei disso.

A vida é curta, as pessoas são muitas, todos merecem o gozo de viver. Existem metas, objetivos, desejos, sonhos… Todos querem felicidade, entretanto ela só existe quando compartilhada, e você não pode compartilhar tudo, ao mesmo tempo, com todos que deixaram em você uma marca. Essa tarefa é feita aos poucos, é uma troca. Dá-se um pouco aqui e leva-se um pouco dali.

Sinto tanto a falta dos meus amigos, alguns que eu nunca mais verei, alguns que estão distantes, alguns que estão aqui ao lado… Queria poder gritar para todos ouvirem o quanto eu os amo, o quanto significaram em minha vida, que se estou calado é porque sou incapaz de abraçá-los. Estou vivendo a minha curta vida, e ainda tenho muito o que descobrir, muitos universos a desvendar.

Contudo, sou do tipo que fecha, que foge, sempre um pouco mais. As marcas que levo comigo machucam. Encontrei pessoas que me decepcionaram. Não confio nos outros, parei com as expectativas, fico esperando pelo pior. É mais seguro, posso seguir meus objetivos. As marcas que deixarem em mim não arderão tanto quanto se eu estivesse propenso a isso. Me esforço para não confiar até nos amigos, essa história de grupos unidos e sinceros é balela, é coisa de cinema, a gente viu quando criança e continuou acreditando. E isso não é de todo um mal. Posso ter inúmeras amizades diferentes, de diversos estilos e pensamentos, e lidar com cada um deles da forma que for necessário. Por isso, não liguei quando me julgaram por certas amizades que fiz pelo caminho e não liguei quando me consideraram um babaca por mantê-las mesmo depois de uma marca suja deixada na nossa história. Só que eu tenho meus limites, e a cada um que passa, me escondo mais. Não quero repetir erros de lições que eu supunha ter aprendido.

Me disseram que preciso acreditar mais nas pessoas, dar uma chance a elas, que isso fará de mim alguém melhor, superior. Acho que eu não quero ser superior. Que adianta acreditar nelas quando elas não acreditam em mim? É, talvez seja um pouco de egoísmo, como disseram, mas foi através disso que consegui me defender e chegar onde estou, e eu tenho muito orgulho de ter chegado até aqui. Não passei por cima de ninguém, e se causei algum mal, foi a mim mesmo.

Me sinto tão triste, como não me sentia desde que fui despejado de uma casa e virei nômade por São Paulo, há quase 3 anos, eu não queria mais ter que passar por algo semelhante. Seguir repentina e inesperadamente sozinho em uma situação em que você mal sabe onde dar o próximo passo é péssimo.

Mais uma vez, estou seguindo minha trilha, minha vida, levando comigo marcas que cicatrizam, dificilmente, mas cicatrizam. E todo o sentimento guardado comigo, que já doeu e já me fez sorrir nessa cidade em que eu brigo com amor e ódio, se juntam a todo o meu passado. Sentirei o reflexo em cada passo.

Eu sobrevivo.

(Desculpem-me por isso, acho que eu precisava desabafar)